Igreja Reformada, sempre se reformando

Arquivado sob (Crítica, Mastigando, Pancadaria) por David em 01-11-2012

Ontem foi 31 de outubro. Para uma grande parte do mundo, Halloween. Para outra parte não tão grande, foi uma ocasião para lembrar e celebrar a Reforma Protestante do século 16.

Ao contrário do Halloween, nas redes sociais as “celebrações” da Reforma se estenderam por todo o mês de outubro, com frases de reformadores, trocas de fotos de perfil, etc. E a verdade é que, para um certo segmento daqueles que se consideram parte da “tradição reformada”, essa “celebração” já passou de um dia, para um mês, para se tornar o comportamento normal durante o ano todo. Em vista dessas coisas, quero fazer as seguintes observações.

A Reforma aconteceu há quase 500 anos. Foi um salto tremendo de volta para uma fé centralizada em Cristo e baseada na sua revelação, deixando de lado uma tradição e eclesiologia que havia usurpado a sua autoridade. Mas nos últimos 500 anos muita coisa aconteceu. O zeitgeist (espírito da época) do mundo mudou tremendamente, e isso afetou, e afeta, o pensamento daqueles que compõem a Igreja de hoje.

Clamo, pelo amor que temos ao Pai, que possamos continuar construindo em cima das verdades resgatadas pela Reforma, mas que possamos construir em cima delas e não continuar martelando os mesmos pregos de Lutero e escrevendo as mesmas palavras que Calvino. Que essas verdades possam servir de pano de fundo para uma Igreja que continua a se reformar, avaliando a si mesma como ela é hoje, à luz das Escrituras, sem ter a cabeça presa num túnel do tempo que enganosamente faz pensar que gritar chavões da Reforma (até virtualmente) tem a mínima utilidade para alguém, dentro ou fora da Igreja, nos dias de hoje.

Se querem gritar chavões da Reforma, que gritem esse: Ecclesia Reformata et Semper Reformanda, ou seja, “Igreja reformada e sempre se reformando”. Deixemos de focalizar no “ponto de partida”, que na verdade foi apenas um ponto de retorno, e lembremos do propulsor Semper Reformanda.*

Que Deus nos abençoe!


*Agradeço ao primo Tacito Gueiros por esse último insight.

Carta aberta à Globo sobre a sua hipocrisia (Atualizado)

Arquivado sob (Crítica, Mastigando, Pancadaria) por David em 24-10-2012

Enviada pelo site falecomaredeglobo.globo.com.

Escrevo referente ao episódio de Malhação que foi exibido no dia 22/10/2012. Após ler uma crítica ao programa detalhada neste blog: cronicasdocotidiano.com/?p=1206, assisti ao episódio por curiosidade, confirmando e estranhando o abuso de autoridade do “professor” (que também constitui bullying) para “ensinar” os seus alunos uma lição sobre o bullying. Expresso minha total concordância com a crítica feita no artigo citado acima, especialmente com esta frase: “VIVEMOS NUM MUNDO ONDE AS PESSOAS ACABAM LEGITIMANDO AQUILO QUE CONDENAM, EM PROL DAS CAUSAS QUE APROVAM.”

Mas, além disso, quero registrar o meu espanto com duas outras ocorrências, nesse mesmo quadro, que demonstram hipocrisia da parte dos roteiristas e produtores do programa.

Primeiro, a piada do “professor” quando a “professora” disse que a classe era dele. “Que delícia! Posso levar pra casa?” Uma piada, sim, mas uma piada com tons de pedofilia, permissível apenas porque aquele que a desferiu aparentemente faz parte do único grupo intocável na nossa sociedade, quando se trata de fazer piadas deste tipo: os homossexuais.

Segundo, o uso, por esse mesmo ator, do termo bicha proibido ao resto da população quando se trata deste grupo. Termo que foi coincidentemente censurado pela globo quando escreveu o seu resumo sobre o episódio (tvg.globo.com/novelas/malhacao/2012/Vem-por-ai/noticia/2012/10/contra-o-preconceito-excelsior-da-aulas-de-bale-para-turma-do-2-ano.html). A frase, como ela aparece no episódio, é: “No palco, podemos ser tudo: homem, mulher, criança, velho, bicho, bicha, árvore…”.

São ocasiões como essas que nos alertam para o fato de que vivemos sob a ditadura cultural de uma minoria, que procura influenciar a sociedade através da mídia não apenas a “aceitar” a sua opção e conviver com ela, mas a ampliar os limites do que é aceitável no discurso público, apenas para este segmento da população.

O episódio não ensinou nada sobre bullying, a não ser que o bullying é aceitável se provém de uma autoridade que é homossexual. E, ao mesmo tempo, ensinou que insinuações quanto à pedofilia e o uso de termos atualmente determinados “ofensivos” são completamente aceitáveis, se provém dessa mesma autoridade. Isso não é igualdade, aceitação ou convivência, e sim, desigualdade, autorização ao humor às custas de algo horrível (a pedofilia), e hipocrisia no uso de termos que, se desferidos por outros, são causa de acusações de intolerância, preconceito e crime.

David Zekveld Portela (24/10/2012)

Atualização (24/10/2012): Resposta recebida na mesma noite:

David

Respeitamos sua opinião e crítica. Suas considerações serão levadas ao conhecimento da direção do programa.

Cordialmente,
Rede Globo.