A Feiura da Beleza
Arquivado sob (Mastigando) por Daniel em 19-02-2009
Durante um almoço com o pessoal do meu serviço a conversa na mesa foi direcionada àquilo que está na cabeça da maioria do povo brasileiro nessa época: o Carnaval. Diversas pessoas contaram histórias de suas visitas a ensaios de blocos carnavalescos, declararam seu amor por uma escola de samba específica e contaram vantagem de quanto haviam bebido nesses eventos.
Eu já havia dado graças a Deus que ninguém havia entrado em detalhes mais específicos de suas peripécias imorais e que a discussão estava acabando, quando a mesa parou a conversa e olhou pra mim. Todos presentes sabiam de minha fé, já havia conversado explicitamente com a maioria sobre o evangelho e vi que eles notaram minha ausência na conversa.
(ELES) – “E você Daniel, nunca participou do Carnaval?”
(EU) – “Não.”
(ELES) – “Você já assistiu a algum desfile de Carnaval?’
(EU) – “Não.”
(ELES) – “Poxa cara, a gente entende seu lado sobre sexo, a farra toda, a bebedeira, mas essas coisas não fazem parte do desfile. O desfile é BONITO. A BELEZA de um bloco é algo inquestionável! Não é?”
(EU) – “Gente, é aí que vocês se enganam…”
A “beleza” do Carnaval é deturpada. O exemplo mais claro disso são os corpos femininos expostos (basta ver 3 segundos de comercial na televisão pra saber). A beleza feminina foi feita para ser usufruida dentro de um contexto específico, o casamento. Para ser apreciada pelo marido. Infelizmente, no carnaval, os corpos são expostos para TODOS verem, sem pudor. Sendo assim, a beleza feminina é a beleza deturpada mais óbvia presente no carnaval.
Segundo, todo bloco tem seu samba, seu enredo e através disso passa uma mensagem. Só que na maioria das vezes a mensagem é contraditória com aquilo que é pregado na Bíblia. Dificilmente se encontra algum tema bom entre as escolas de samba e a oportunidade de impactar milhares e milhares de pessoas positivamente é desperdiçada. Um de meus colegas argumentou dizendo que algumas escolas falam de ecologia, sobre a preservação da natureza, pois é criação de Deus, e o homem não tem direito de destruir a natureza, etc…
Agora reflitamos um pouco nisso. Se olharmos a cena com cuidado, veremos que a contradição é gritante! Imagine só, um monte de gente dançando e pulando, gritando, proclamando que devemos preservar a mata, os rios, os animais, pois a NATUREZA é criação de Deus! (okay, beleza, até aí aceito a mensagem). Só que, logo depois da transmissão dessa linda mensagem, os integrantes e os que assistiam participam e organizam os bacanais, a bebedeira desenfreada e uma miscelânia de outras atividades prejudiciais a sua saúde. Ou seja, o corpo deles, que é NATUREZA, que também é criação de Deus, é destruido por eles próprios (hipocrisia pura) sem ao menos pensarem duas vezes.
Não há nada de positivo no Carnaval. Não há nada de verdadeiramente belo no Carnaval. A única coisa pra qual o Carnaval pode ser útil é como expositor da Depravação Total do homem. Morno é o crente que assiste tudo isso e não enxerga como o mundo necessita de Cristo.
E é por isso que, para mim, criado e crendo na Palavra de Deus e suas verdades, só enxergo a feiura da beleza do Carnaval brasileiro.
Publicado originalmente em 2006: http://danielportela.blogspot.com/2006/02/feiura-da-beleza.html
!BONUS! –Pra quem gosta de poesia, abaixo segue uma sobre o Carnaval. Autoria do Pastor Jerônimo Gueiros:
Carnaval! Empolgante Carnaval!
Festa vibrante! Festa colossal!
Festa de todos: de plebeus e nobres,
Que iguala, nas paixões, ricos e pobres.
Festa de esquecimento do passado,
De térreo paraíso simulado…
Falsa resposta à voz do coração
De quem não frui de Deus comunhão,
Festa da carne em gozo desbragado,
Festa pagã de um povo batizado,
Festa provinda de nações latinas
Que se afastaram das lições divinas.
Ressurreição das velhas bacanais,
Das torpes lupercais, das saturnais
Reino de Momo, de comédias cheio,
De excessos em canções e revolteio,
De esgares, de licença e hilaridade,
De instintos animais em liberdade!
Festa que encerra o culto sedutor
De Vênus impúdica em seu fulgor.
Festa malsã, de Cristo a negação,
Do “Dia do Senhor” profanação.
Carnaval! Estonteante Carnaval!
Desenvoltura quase universal!
Loucura coletiva e transitória,
Deixa do prazer lembrança inglória,
Festa querida, do caminho largo,
De início doce, mas de fim amargo…
Festa de baile e vinho capitoso,
Que morde como ofídio venenoso,
Que tira do homem sério o nobre porte,
E gera o vício, o crime, a dor e a morte.
Carnaval! Vitando Carnaval!
Festa sem Deus! Repúdio da moral!
Festa de intemperança e gasto insano!
Trégua assombrosa do pudor humano,
Que solta a humana besta no seu pasto:
O sensualismo aberto mais nefasto!
Festas que volve às danças do selvagem
E do africano, em fúria, lembra a imagem,
Que confunde licença e liberdade
Nos aconchegos da promiscuidade
Sem lei, sem norma, sem qualquer medida,
Onde a incauta inocência é seduzida,
Onde a mulher, às vezes, perde o siso
E o cavalheiro austero o são juízo;
Onde formosas damas, pela ruas,
Exibem, saltitando, as formas suas,
E no passo convulso e bamboleante,
Em requebros de dança extravagante,
Ouvem, no “frevo” , as chufas e os ditados
Picantes, de homens quase alucinados,
De foliões audazes, perigosos,
Alguns embriagados, furiosos!
Muitos, tirando a máscara, em tais dias,
Revelam, nessas loucas alegrias,
A vida que levaram mascarados
Com a máscara dos homens recatados…
Carnaval! Perigoso Carnaval!
Que grande festa e que tremendo mal!
Brasil gigante, atenção! Atenção!
O Carnaval é festa de pagão!
Repele-o! Que te traz só dor e morte!
Repele-o! E inspira em Deus a tua sorte.
Ótimo post… também todo carnaval tem o lindo acampamento onde louvamos e aprendemos… isso sim que é beleza 🙂
Também não vejo beleza NENHUMA no carnaval… esse ano não fui para acampamento mas teve um congresso abençoadíssimo na minha igreja e me deliguei totalmente da televisão porque tenho até agonia de ouvir aquelas músicas. Realmente, ótimo post.
Discordo totalmente e escrevi sobre o Carnaval em um post no meu blog e esclareci algumas posições na seção de comentários.
http://soltandopipa.blogspot.com/2009/02/de-outros-carnavais.html
Abraço!
Na graça,
Robson
Prezado Robson,
Fique a vontade pra discordar. No entanto não vejo como conciliar a sem vergonhice que acontece no carnaval com a fé cristã. Cristianismo sem moralidade não é cristianismo.
Grande abraço,
Daniel
“Cristianismo sem moralidade não é cristianismo”. Acho que essa sua frase chega a ser uma heresia. E no mínimo requer um estudo conceitual sobre moralidade. Mas levando em conta que você está falando sobre a ética cristã pautada no amor a Deus e ao próximo podemos avançar. Apesar de que reduzir Carnaval a sem vergonhice é muito pobre.
Paz!
Olá Robson –
Se você acha que isso é heresia, a briga que você comprou é com o apóstolo Tiago, e não com o Daniel: “Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.” Tiago 2:26. Não requer estudo conceitual nenhum…a aplicação da fé nas obras do dia-a-dia (ou seja, viver uma vida moral, i.e. ter uma moralidade) é um componente integral da fé verdadeira.
Tudo bem, reduzir Carnaval a sem-vergonhice pode ser uma simplificação. Mas não foi isso o que o Daniel fez, ele disse que as celebrações do Carnaval são cheias de sem-vergonhice. Ignorar este fato é tapar os olhos ao mundo que nos rodeia. E você próprio admitiu isso quando, no seu blog, disse que não estava “fazendo apologia aos excessos da nossa sociedade que ficam mais evidentes nas celebrações do carnaval.” No entanto, o que faltou foi explicar como podemos “reter o que é bom” quando o que é ruim é jogado na nossa cara, celebrado, exaltado, e por vezes até adorado (estou pensando aqui nos sobretons espíritas de várias músicas e desfiles).
Ao meu ver, seria como alugar um filme pornô para ver se a história do filme tem temas bons (a luta do bem contra o mal, alguém ajudando outra pessoa numa situação difícil, etc.) pensando que conseguiria ser “imune” às cenas explícitas que (1) cercam aquela quantia minúscula de coisas “boas” e (2) são o foco principal daquela “obra de arte”.
Não sou contra o reconhecimento da beleza na cultura. Mas num festival como o carnaval, que acontece sob a ótica Católica de “vale tudo, pois é só ir rezar depois que fica tudo certinho,” e que na verdade é o cúmulo desta visão de salvação baseada em obras, onde o homem faz expiação pelos seus próprios pecados e onde ELE é quem decide o seu destino eterno, acho que tem coisas muito melhores para “reter” (e coisas muito mais belas a serem criadas e apreciadas) do que este festival.
Será que talvez você não esteja reagindo um pouco demais a experiências que teve com o que você chama de “imperialismo cultural”? Ainda não consegui entender bem o que você quer dizer com essa expressão, se você puder esclarecer, acho que talvez fique mais claro pra mim e possamos continuar o papo por aí.
Um abraço do seu irmão em Bangladesh.
– David
Querido irmão,
O post fala sobre imperialismo cultural como bombardeio de uma mensagem alienígena [um evangelho descontextualizado]. Apesar da pergunta, percebo que vocês tendem pro sectarismo cultural. Para usar a terminologia de vocês o que eu advogo é um carnaval sem sem-vergonhice. Mas acho que precisa ser explicado melhor essa confusão entre cristianismo e moralidade que nem Tiago ensinou.
Abraço!
Olá Robson –
Rejeito a acusação de “sectarismo cultural”. Muito ao contrário, amo a cultura brasileira! Nasci em Pernambuco, onde as raízes culturais são profundíssimas e permeiam a consciência popular através de comidas típicas e festivais que são celebrados durante o ano todo. Um exemplo claro de um festival que não vejo problema em participar é a festa de São João (ou Festa Junina). Mas sei que também existem crentes que não gostam de celebrar, talvez pelo nome Católico da festa, our pelo fato de que incorpora danças, etc. (um dia o nosso povo vai perder o medo de dançar…). Consigo apreciar a beleza da capoeira como dança/arte-marcial sem aceitar o espiritismo que muitas vezes a acompanha. Acho deliciosos os tipos diferentes de comida das diversas partes do nosso país, sou ávido consumidor e apreciador da nossa diversidade musical (com a notória excessão de pagode e funk, por motivos de bom gosto). E por aí vai.
O Carnaval que você diz apreciar, e que você descreve no seu post, seria sim uma coisa bela. Mas não é o Carnaval que existe, esmagado pelo peso da celebração do excesso, do pecado, e da manifestação dos desejos do coração do homem acima de todas as coisas, incluindo qualquer versão de moralidade. Alguém pode até argumentar “Mas Jesus sentou e compartilhou refeições com prostitutas, fiscais corruptos, ou seja, gente da pior laia.” Tudo bem, mas isso não significa que ele saiu e celebrou com eles, sorrindo e passando a mão na cabeça deles enquanto faziam todas estas coisas. Jesus ia de encontro com a cultura de seu tempo para exercer a sua influência sobre ela, e não para ser conivente com os seus excessos e pecados. Ele repousou na casa de Zaqueu, sabendo que o seu contato com ele mudaria a sua vida para sempre. Porém, na mesma medida saiu dando bordoadas e revirando as mesas daqueles trocadores de moedas que estavam dentro do templo. Tenho certeza absoluta que se Jesus estivesse no Brasil no seu corpo humano durante a época de Carnaval, ele não estaria pulando no meio do bloco, rodeado por mulheres nuas e cantando:
Oguntê, Marabô
Caiala e Sobá (bis)
Oloxum, Inaê
Janaína, Iemanjá
(Império Serrano, 2009)
Abraços,
– David
P.S. Quanto ao papel da moralidade no cristianismo, não consigo explicar mais claramente do que o apóstolo Tiago já fez. Você realmente não entende a relação entre fé e obras da qual ele está falando?
David,
Insisto que você confunde as coisas. Confunde carnaval e sem-vergonhice. Confunde moralidade e cristianismo. Você citou a apreciação da capoeira com ressalvas. Sabe o porque ela tem aspectos do espiritismo? Porque precisou se refugiar por séculos nos terreiros para sobreviver a perseguição do imperialismo cultural. Sabe porque os sambas cantam outros deuses? Será que Deus não é o pai do samba? Acho que dá pra deduzir. Se a Igreja se retira o mundo (e o carnaval) ficam sem sal e sem luz. Pra mim o pior é quando além disso joga pedra na podridão e escuridão. Porque está estragado? Porque está obscuro? É impossível redimir o carnaval? Nesse ano participei de um bloco de carnaval, andei pelo centro e zona sul do Rio e sinceramente vi muito menos sem-vergonhice do que esperava ver ou talvez o carnaval já não seja mais uma época em que os excessos da nossa sociedade ficam mais evidentes, porque os excessos estão em todo lugar, durante todo ano. Talvez seja isso. Vi famílias. Ri, brinquei, dancei, interagi com pessoas maravilhosas que queriam rir, dançar e brincar. Jesus não só estaria lá como creio que estava. Fui sal e luz, mesmo sem ter ido com objetivo de evangelizar. Queriam saber mais sobre o que eu acreditava. Um missionário às vesperas de ir pra África mas que estava ali com eles, sem condenar ou impor uma cultura, anunciando que Jesus veio para reconciliar o mundo com Deus. Foi bom, muito bom. A posição dos reformadores nunca foi de “Cristo contra a cultura”. Ou via-se “Cristo e a cultura em paradoxo” como no caso de Lutero. Ou via-se “Cristo transformador da cultura” como no caso de Calvino. Que Deus possa nos ajudar e mostrar uma forma alternativa de agir. Acredito que quando extremos imperialista e sectaristas foram descartados essa direção será mais clara.
Abraço!
PS: A ética cristã baseada no amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo supera a convenção humana caída chamada de moral que não passa de tentativas de auto-justificação. Se em termos gerais a ética já representa um olhar crítico sobre a moral, quanto mais a ética cristã com graça e verdade. Não estou dissociando fé e obras. Tiago está coberto de razão. Estou é problematizando o que são essas boas obras.
Prezado Robson,
Agradecemos a sua interação aqui no mastigue.
Vou responder em partes. Você disse que o David confunde “carnaval e sem-vergonhice”. Meu caro, infelizmente (por N motivos) o Carnaval do Brasil, em sua vasta maioria, É sem-vergonhice. Já era, não nos iludamos! Parece-me que você tem na cabeça um Carnaval diferente do que realmente já é! Veja os maiores carnavais do Brasil em Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, e ademais cidades. A sem-vergonhice é o que predomina. Não estamos confundindo Carnaval com o pecado e idolatria. Já virou isso faz tempo. Se na sua cabeça você ainda tem noções puras sobre o Carnaval, ótimo pra você, mas você é minoria!
Você também disse: “Se a Igreja se retira o mundo (e o carnaval) ficam sem sal e sem luz.” Cara, estar no mundo para falar de Deus e apontar para Cristo é uma coisa, agora ficar no mundo para participar de tudo que é praticado no mundo, é uma outra coisa inteiramente. Vou agora para prostíbulos para evangelizar prostitutas e cafetões? Vou para festas nas casas de traficantes para evangelizá-los? É como o David disse, Jesus interagiu com todas essas pessoas mas não saiu por aí celebrando com eles e passando a mão na cabeça deles. Você está extremamente correto ao dizer que não temos que viver numa bolha tacando pedras nos outros. Mas ao mesmo tempo temos que ter padrões de certo e errado e nos expressar quando achamos algo errado e imoral. Não vejo na Bíblia o povo de Deus sendo incentivado a participar das festas para Diana dos Efésios para converter o pessoal, ou para ser sal e luz. Na verdade o povo tinha que ser sal e luz sem participar desses festivais. O mesmo princípio aplica-se ao Carnaval.
Você disse: “É impossível redimir o carnaval?” – eu diria que não é impossível mas é quase, porque o povo não vai apoiar um Carnaval puro sem pecados e bacanais. Mas se Deus quiser converter o povo brasileiro inteirinho ele pode fazer isso. Mas será que reformar o Carnaval deveria ser nossa prioridade como cristãos? Que benefício maior o povo de Deus teria em redimir o Carnaval? Desculpe mas acredito que o povo de Deus deve gastar seus esforços e tempo na pregação da palavra de Deus e não tentando reformar um festival mundano. Isso estaria lá no 371º lugar na minha lista de prioridades…
Você disse: “vi muito menos sem-vergonhice do que esperava” – viu pouco, mas viu mesmo assim! Quero dar um alerta aqui, não sei se é o seu caso mas, cuidado pois a nossa consciência vai se cicatrizando contra o mal a medida que nos acostumamos com ele. Será que não estava rolando a maior pegação do seu lado e você não viu ou sua consciência não o acusou porque você já está acostumado com isso? Não que você pratique essas coisas, mas o mal vai perdendo a cara de “mal” a medida que o tempo passa e nós o vemos todo dia. Assim como é com a violência na televisão, nem nos impacta mais de tão acostumados. Isso é um perigo para nós cristãos.
Você disse: “Jesus não só estaria lá como creio que estava. Fui sal e luz, mesmo sem ter ido com objetivo de evangelizar.” – Você falou de Cristo para alguém? As pessoas que estavam alí e te viram dançando e rindo e cantarolando viram na sua vida a transformação que Jesus fez no seu coração? Ou você era mais um folião? Não vejo como você pode ser sal e luz sendo que estava fazendo a mesma coisa que dezenas de milhares de pessoas ao seu redor. Todos estavam sendo sal e luz? Desculpe-me se estou enganado mas sal e luz pra mim é fazer uma diferença no mundo apontando para Cristo, não é participando das folias do mundo. Note que eu não estou dizendo que é errado dançar, cantar e rir, pelo contrário, façamos todas essas coisas. Nada de falso puritanismo. Mas dizer que ao fazer isso no meio do Carnaval você foi sal e luz já é um exagero.
Por último, aparentemente você tem um problema ou não gosta da palavra “moral”. Para mim estamos discutindo semântica. Vou explicar. Quando digo moral, não estou dizendo auto-justificação, mas sim me refiro as linhas claras de certo e errado dadas pela Bíblia. Alguém pode seguir essa moralidade e não ser cristão? Pode. Alguém pode ser um cristão e não ter um padrão de certo e errado definido pela Bíblia? Não. Porque então toma o lugar de Deus e foge da obediência aos seus preceitos. Não temos que impor uma cultura, mas devemos sim, sempre, nos colocar contra o que é errado e imoral ao mesmo tempo em que defendemos os padrões bíblicos.
Grande abraço,
Daniel
Daniel,
Eu discordo de tudo o que você escreveu. Eu poderia estender essa discussão, mas percebo que temos posições irreconciliáveis. Apesar de ter sido bom participar, seria inútil prolongar. Guardo um profundo respeito por aqueles que pensam diferente. Vocês são meus irmãos, creio que Deus é glorificado na diversidade do Corpo. Parabéns pelo blog! É muito bonito.
Deus agracie!
Na comunhão,
Robson
Caro Robson,
Apreciamos suas contribuições aqui no mastigue. Por favor, não deixe de participar apenas porque discorda e acha que temos posições irreconciliáveis. Deus é sim glorificado na diversidade do corpo, mas não necessariamente na discordância entre irmãos. Especialmente sobre aspectos tão importantes dos seus preceitos de certo e errado.
Acredito ser muito benéfica essa discussão para ambos os lados. Se nós estamos errados em nosso posicionamente precisamos de alguém como você para nos esclarecer, e vice-versa. Eu estou muito curioso para ver suas respostas aos meus pontos.
Uma resposta sua é boa para esse debate saudável e respeitoso que está acontecendo. Se parar agora vai ficar a impressão no ar que você parou com a discussão pois não teve resposta para nossos argumentos (o que eu não acredito ser o caso). Não acho que essa seja a impressão que você deseja deixar e por isso vejo como importante a continuação dos seus comentários.
Enfim Robson, Deus te abençoe ricamente. Fique a vontade para continuar a contribuir no nosso blog.
Abraço,
Daniel
Daniel,
Deus é glorificado na diversidade. E os irmãos não precisam concordar em tudo, mas as discordâncias não devem nos separar. Sei que conversar com o diferente agrega valor, mas confesso que esse tema está um tanto desgastado pra mim. Tratei disso no meu blog e já discuti bastante sobre isso com amigos. Prefiro mudar de assunto, mas antes vou tentar responder em partes o seu comentário para não pensar que estou fugindo ou sem argumentos.
“Você disse que o David confunde “carnaval e sem-vergonhice”. Meu caro, infelizmente (por N motivos) o Carnaval do Brasil, em sua vasta maioria, É sem-vergonhice. Já era, não nos iludamos! Parece-me que você tem na cabeça um Carnaval diferente do que realmente já é! Veja os maiores carnavais do Brasil em Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, e ademais cidades. A sem-vergonhice é o que predomina. Não estamos confundindo Carnaval com o pecado e idolatria. Já virou isso faz tempo. Se na sua cabeça você ainda tem noções puras sobre o Carnaval, ótimo pra você, mas você é minoria!”
Tem “sem-vergonhice” no carnaval brasileiro? Sim. Fiz um breve resumo da trajetória histórica dessa festividade no post do meu blog, sinalizando a entrada de elementos como sexo e bebidas. Mas reduzir carnaval a isso não é honesto. Você fala sobre um predomínio da “sem-vergonhice”. Ela continuará predominando enquanto essa festividade for celebrada apenas por “sem-vergonhas”. Entendeu? Cadê os crentes para celebrarem com pureza? Sem sal tudo estraga. Sem luz tudo fica obscuro.
“Cara, estar no mundo para falar de Deus e apontar para Cristo é uma coisa, agora ficar no mundo para participar de tudo que é praticado no mundo, é uma outra coisa inteiramente. Vou agora para prostíbulos para evangelizar prostitutas e cafetões? Vou para festas nas casas de traficantes para evangelizá-los? É como o David disse, Jesus interagiu com todas essas pessoas mas não saiu por aí celebrando com eles e passando a mão na cabeça deles.”
Eu não estou no mundo para falar de Deus. Estou no mundo para glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. Falar de Deus é apenas uma das formas de glorificá-lo. E quando falo de Deus, anuncio o Dono da terra e de tudo que nela há. Não sou um ET e participo de coisas do mundo. Essa dicotomia entre sagrado e profano é estranha ao ensino reformado. Sobre o evangelismo e a interação com todas as pessoas, acho que o Mestre deu o exemplo. Ele foi. Ele celebrou. Mas não passou a mão na cabeça deles.
“Mas ao mesmo tempo temos que ter padrões de certo e errado e nos expressar quando achamos algo errado e imoral.”
Sim temos padrões bíblicos de certo e errado e nos expressamos quando achamos algo errado. Eu não questionei isso em nenhum momento.
“Não vejo na Bíblia o povo de Deus sendo incentivado a participar das festas para Diana dos Efésios para converter o pessoal, ou para ser sal e luz. Na verdade o povo tinha que ser sal e luz sem participar desses festivais. O mesmo princípio aplica-se ao Carnaval.”
Acho que esse exemplo da festa para Diana dos efésios não se aplica ao carnaval de maneira nenhuma. Essa era uma festividade essencialmente religiosa. O caráter religioso do carnaval (presente em sua origem e depois em sua cristianização) está totalmente diluído desde o Renascimento. Hoje é uma festividade essencialmente cultural. Se bem que Paulo falando sobre a comida oferecida aos ídolos, deixa claro que o problema não é comer ou não comer, ou nesse caso participar ou não participar, mas sim a consciência de quem come ou participa.
“Você disse: “É impossível redimir o carnaval?” – eu diria que não é impossível mas é quase, porque o povo não vai apoiar um Carnaval puro sem pecados e bacanais. Mas se Deus quiser converter o povo brasileiro inteirinho ele pode fazer isso. Mas será que reformar o Carnaval deveria ser nossa prioridade como cristãos? Que benefício maior o povo de Deus teria em redimir o Carnaval? Desculpe mas acredito que o povo de Deus deve gastar seus esforços e tempo na pregação da palavra de Deus e não tentando reformar um festival mundano. Isso estaria lá no 371º lugar na minha lista de prioridades…”
Transformar o carnaval é quase impossível? Sim ou melhor eu digo que só por um milagre. Um milagre regenerador efetuado por Deus no coração de pecadores, desalienando pessoas de Cristo que é a beleza e bondade, profundidade de toda expressão cultural. Eu creio que Ele pode fazer isso e até sonho com isso. Reformar o carnaval deveria ser nossa prioridade? Depende. Para pietistas, talvez não. Para reformados, deveria ser apenas uma das coisas dentro da totalidade dos empreendimentos humanos que devem ser submetidos ao senhorio de Cristo.
“Você disse: “vi muito menos sem-vergonhice do que esperava” – viu pouco, mas viu mesmo assim! Quero dar um alerta aqui, não sei se é o seu caso mas, cuidado pois a nossa consciência vai se cicatrizando contra o mal a medida que nos acostumamos com ele. Será que não estava rolando a maior pegação do seu lado e você não viu ou sua consciência não o acusou porque você já está acostumado com isso? Não que você pratique essas coisas, mas o mal vai perdendo a cara de “mal” a medida que o tempo passa e nós o vemos todo dia. Assim como é com a violência na televisão, nem nos impacta mais de tão acostumados. Isso é um perigo para nós cristãos.”
Bom, nessa parte você deslizou no discurso moralista que eu não vou nem me dar ao trabalho de responder. “Todas as coisas são puras para os puros, mas nada é puro para os contaminados e infiéis; antes o seu entendimento e consciência estão contaminados” – já dizia nosso irmão Tito.
“Você disse: “Jesus não só estaria lá como creio que estava. Fui sal e luz, mesmo sem ter ido com objetivo de evangelizar.” – Você falou de Cristo para alguém? As pessoas que estavam alí e te viram dançando e rindo e cantarolando viram na sua vida a transformação que Jesus fez no seu coração? Ou você era mais um folião? Não vejo como você pode ser sal e luz sendo que estava fazendo a mesma coisa que dezenas de milhares de pessoas ao seu redor. Todos estavam sendo sal e luz? Desculpe-me se estou enganado mas sal e luz pra mim é fazer uma diferença no mundo apontando para Cristo, não é participando das folias do mundo. Note que eu não estou dizendo que é errado dançar, cantar e rir, pelo contrário, façamos todas essas coisas. Nada de falso puritanismo. Mas dizer que ao fazer isso no meio do Carnaval você foi sal e luz já é um exagero.”
Qual o problema de ser mais um folião? É isso que não entra na minha cabeça. Não acho que participar das folias do mundo (entenda-se festas culturais) seja incompatível com o apontar para Cristo. E também não acho que essa diferença entre cristão e não-cristão seja meramente uma diferença de costumes. Como disse no meu comentário não fui para evangelizar, mas fui perguntado sobre a razão da minha esperança. Logo eu, apenas mais um folião. Porque será? Minha resposta foi que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação”.
“Por último, aparentemente você tem um problema ou não gosta da palavra “moral”. Para mim estamos discutindo semântica. Vou explicar. Quando digo moral, não estou dizendo auto-justificação, mas sim me refiro as linhas claras de certo e errado dadas pela Bíblia. Alguém pode seguir essa moralidade e não ser cristão? Pode. Alguém pode ser um cristão e não ter um padrão de certo e errado definido pela Bíblia? Não. Porque então toma o lugar de Deus e foge da obediência aos seus preceitos. Não temos que impor uma cultura, mas devemos sim, sempre, nos colocar contra o que é errado e imoral ao mesmo tempo em que defendemos os padrões bíblicos.”
Não é que não gosto da palavra moral. A moral é fruto do conhecimento do bem e do mal. Lembra sua origem? No entanto, rejeito é a bandeira moralista, a redução da vida cristã a uma formatação de costumes e adesão a uma listinha de pode ou não pode. Mas em nenhum momento estou dizendo que a Bíblia não seja regra de fé e prática. Confundir moralismo ou moralidade com cristianismo é um grande equívoco. Não há nada mais imoral ou amoral do que declarar um criminoso como inocente e ainda recompensá-lo, punindo um inocente no lugar do criminoso. A graça tornou louca a moralidade do mundo! E descortinou o caminho do amor, muito mais excelente.
Que Deus nos ensine a trilhar esse caminho!
Na comunhão,
Robson.
Olá Robson –
Concordo com você que a transformação da cultura é uma das prioridades do seguidor de Cristo. Afinal, a interface, análise, discussão, e eventual transformação das culturas nas quais vivemos é a razão da existência deste blog. Olhando esta discussão toda, creio que talvez estejamos partindo de pontos diferentes, sem que estes sejam totalmente incompatíveis. A proposta do artigo é a de que a beleza do carnaval é uma beleza deturpada. A sua análise (me corrija se estiver errado) é que ainda existe beleza, mesmo no meio da deturpação, e que esta beleza merece ser resgatada. Até nas chances de resgate eu, você, e o Daniel concordamos: são poucas, mas para Deus nada é impossível.
O que resta é a questão de como empenhar os nossos esforços da melhor maneira, para efetivar a transformação da cultura nesta área. Também concordo com você quando diz que simplesmente fugir da raia e se enclausurar num acampamento ou retiro, tentando esquecer as festividades completamente ou pior, tacando pedras lá de dentro, não é uma proposta eficaz para este fim. Mas por outro lado, da mesma forma que você diz que não consegue ver qual o problema em ser mais um folião, o que não entra na minha cabeça é uma forma de fazer isso sem acarretar mais problemas ainda, ao invés de uma transformação.
Em primeiro lugar, existe o problema da tentação. Não acho que estou sozinho quando digo que, se eu estiver dançando na rua ao lado de mulheres semi-nuas (ou nuas mesmo), vou sofrer tentação. Qual deve ser a minha postura? Devo tentar me concentrar em outras coisas, tentar me divertir apesar daquelas circunstâncias? E como conseguirei reconciliar isto com a recomendação de 1 Cor. 6.18, que me exorta a fugir da imoralidade sexual? Talvez a sua experiência do carnaval não tenha sido assim (não sei onde você celebrou, talvez estivesse todo mundo vestido mesmo, ou talvez você seja imune a estas tentações), mas o pouco que tenho visto tem sido assim, sim. Até que ponto o mandato de transformação da cultura deve ser levado? Para mim, esse é um dos grandes problemas que vejo quanto a “pular Carnaval.”
Em segundo lugar, acho que você não discordará que nem sempre tudo o que é cultural precisa ser desfrutado. Lembro que há anos atrás, um amigo meu estava trabalhando numa empresa em São Paulo. Os seus colegas de trabalho sempre apareciam com a última Playboy, que ia de mesa em mesa até pular a dele, já que ele já havia deixado claro que não queria ver. Esse pequeno ritual fazia parte da cultura daquela empresa, todos participavam, olhavam, comentavam…e ele se sentia meio peixe-fora-d’água. Ficava um pouco tentado a olhar? Ora bolas, ele é homem, claro que sim! Mas ao mesmo tempo em que se recusava a participar daquilo, encontrava outras formas de interagir com aquela cultura que lhe cercava, sem participar daquele ritual mensal. E gerou muitas amizades ali, teve oportunidades de falar sobre o evangelho, foi sal e luz de diversas formas.
Resumindo… Acho que certamente existam maneiras melhores de interagir com o que há de cultural na celebração do Carnaval do que se enclausurar e tacar pedras (mas é bom lembrar que nem todos os retiros que acontecem durante o Carnaval tem este propósito ou metodologia). Mas também vejo grandes dificuldades em simplesmente sair pra rua e me jogar no meio da folia. Creio que precisamos de pensar em outras maneiras de transformar esta parte da nossa cultura, sem todavia corrermos para o meio de tudo e nos colocarmos numa situação constrangedora e tentadora.
Abraços,
– David
Entendo a sua preocupação. A moderação de nossa argumentação nos últimos comentários revela que houve crescimento com o debate.
Abraço!