Sem medo de ser poeta
Arquivado sob (Mastigando) por David em 10-12-2011
Desde que me dei por gente, minha vida tem sido tocada por palavras que escapavam da caneta do meu avô e faziam morada no papel, gentilmente e cuidadosamente colocadas em ordem, frase, e verso, pelo primeiro poeta que conheci. Na infância, nunca tive a impressão de que estas obras eram algo diferente ou fora do normal. Meu avô escrevia poesias…não era isso o que todos os avôs faziam?
Mais tarde, já menos menino e mais rapaz, quando borbulhavam os sentimentos do meu coração, iam parar no papel, em ordem, frase, e verso. Não houve decisão de ser poeta. Não houve deliberação sobre aptidão, capacidade, ou conhecimento literário…apenas uma afinidade com a maneira na qual meu avô sempre havia se expressado. Apesar das marcas já me outorgadas pela cruel realidade ainda naquela tenra idade, a idéia da normalidade da poesia permanecia.
Meu vô não teve uma vida fácil. Teve que assumir responsabilidade pelo resto da sua família bem cedo. Trabalhou duro, na mata e no sertão, erguendo torres elétricas no sol escaldante do nordeste, construindo civilização no meio de circunstâncias difíceis. Ao se aposentar, se tornou advogado e continuou trabalhando até alguns anos atrás, quando a falta de saúde finalmente lhe roubou a capacidade deste esforço.
Essa vida, vida de guerreiro, vida de quem vai a luta e carrega seus companheiros, vida de quem ampara todos ao seu redor, vida de quem agüenta dor mordendo a língua e segue em frente até o fim…foi nesta vida difícil que meu avô seguiu a Jesus. Foi demonstrando o amor de Cristo pelos seus familiares, amigos, e irmãos na fé, que ele fez poesia com a sua vida, tocando almas e corações ao seu redor.
As últimas palavras que lhe escaparam nesta vida, não pude ouvir. Mas ao soltar seu suspiro final aqui, e abrir seus olhos na glória que agora experimenta, Vovô nos legou as poesias-vividas das lembranças que sempre teremos. E à medida que prossigo tecendo os versos dos meus dias, agradeço e glorifico a Deus por ter me dado um avô sem medo de ser poeta.
David Zekveld Portela
10 de dezembro de 2011
Jairo de Carvalho Portela faleceu no dia 9 de dezembro de 2011. Algumas de sua poesias podem ser vistas no site http://jairoportela.wordpress.com.
Olá, David: Gostei muito do seu texto. Seu avô também me inspirou a escrever poesias. Uma vez, ele me ajudou a fazer uma apresentação de Natal sobre o tabernáculo. Fiz o texto, ele colocou rima. Depois eu mesma fiz a rima no inglês. Ficou bonito… Nunca chegamos a publicar… Continue transformando prosa em poesia–a vida ficará bem mais significativa, bonita e relevante. Para todos. Beijos da sua mãe
Antes de mais nada, minhas condolências!
O texto é lindo e me inspirou bastante, pode ter certeza que seu avó esta no paraíso aguardando o soar da trombeta, onde um dia todos nós iremos ouvir..
David,
Li as poesias do seu avô, e pude perceber que é possível, fazer arte numa cosmovisão bíblica. São bonitas, sensíveis e enriquecedoras. Vocês netos, com certeza continuarão o
que ele desejou, quando queria dez filhos, mas o único que teve e a filha (sua mãe) lhe deram essa felicidade. Parabéns pelo privilégio de ter um avô como ele, e um dia com certeza nos encontraremos na glória.
Deus o abençoe
[…] meu avô era poeta, minha avó era artista. Sua especialidade era tornar as coisas belas com pequenos detalhes. Na […]