Sem medo de ser poeta

Arquivado sob (Mastigando) por David em 10-12-2011

Jairo de Carvalho Portela e Valderez Sena Portela (2007)

Desde que me dei por gente, minha vida tem sido tocada por palavras que escapavam da caneta do meu avô e faziam morada no papel, gentilmente e cuidadosamente colocadas em ordem, frase, e verso, pelo primeiro poeta que conheci. Na infância, nunca tive a impressão de que estas obras eram algo diferente ou fora do normal. Meu avô escrevia poesias…não era isso o que todos os avôs faziam?

Mais tarde, já menos menino e mais rapaz, quando borbulhavam os sentimentos do meu coração, iam parar no papel, em ordem, frase, e verso. Não houve decisão de ser poeta. Não houve deliberação sobre aptidão, capacidade, ou conhecimento literário…apenas uma afinidade com a maneira na qual meu avô sempre havia se expressado. Apesar das marcas já me outorgadas pela cruel realidade ainda naquela tenra idade, a idéia da normalidade da poesia permanecia.

Meu vô não teve uma vida fácil. Teve que assumir responsabilidade pelo resto da sua família bem cedo. Trabalhou duro, na mata e no sertão, erguendo torres elétricas no sol escaldante do nordeste, construindo civilização no meio de circunstâncias difíceis. Ao se aposentar, se tornou advogado e continuou trabalhando até alguns anos atrás, quando a falta de saúde finalmente lhe roubou a capacidade deste esforço.

Essa vida, vida de guerreiro, vida de quem vai a luta e carrega seus companheiros, vida de quem ampara todos ao seu redor, vida de quem agüenta dor mordendo a língua e segue em frente até o fim…foi nesta vida difícil que meu avô seguiu a Jesus. Foi demonstrando o amor de Cristo pelos seus familiares, amigos, e irmãos na fé, que ele fez poesia com a sua vida, tocando almas e corações ao seu redor.

As últimas palavras que lhe escaparam nesta vida, não pude ouvir. Mas ao soltar seu suspiro final aqui, e abrir seus olhos na glória que agora experimenta, Vovô nos legou as poesias-vividas das lembranças que sempre teremos. E à medida que prossigo tecendo os versos dos meus dias, agradeço e glorifico a Deus por ter me dado um avô sem medo de ser poeta.

David Zekveld Portela
10 de dezembro de 2011

Jairo de Carvalho Portela faleceu no dia 9 de dezembro de 2011. Algumas de sua poesias podem ser vistas no site http://jairoportela.wordpress.com.

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