Uma prova explosiva da existência de Deus?

Arquivado sob (Mastigando) por David em 15-10-2008

O Daniel escreveu um artigo sobre o acelerador de partículas que falhou alguns dias atrás. Nos comentários, alguns observaram que não crêem que seja possível provar que Deus não existe:

Bom, eu parto do pressuposto que toda verdade é verdade de Deus. Neste sentido, acho a pesquisa até válida, mesmo que a intenção dos pesquisadores seja provar que Deus não existe.

Concordo. Vão descobrir alguma coisa, mas provar que Deus não existe não é possível. Ouvi alguns argumentos sobre como o Big Bang prova que Deus criou o mundo, e que a teoria do Big Bang nos leva ao ponto inicial quando Deus criou tudo.

Partindo de uma cosmovisão cristã, não tenho dúvida de que estas coisas sejam verdade. Mas o fato é que a grande maioria dos cientistas não vão olhar os resultados da pesquisa por esta perspectiva. E quando o papo é ciência, os pressupostos são essenciais às conclusões.

Pressupostos

Qualquer “prova” parte de certos pressupostos (coisas que são aceitas antes de começar a discussão, o argumento, ou a “prova” científica). Como o André disse, ele parte do pressuposto que toda verdade é verdade de Deus. Essa é uma citação de um pregador e autor que viveu nos séculos 16 e 17, que permanece no linguajar (e nos pensamentos) da comunidade cristã até hoje:

A verdade vem de Deus, onde quer que a encontremos, e é nossa, é do Povo de
Deus… Não devemos fazer destas coisas um ídolo, mas a verdade, onde quer
que a encontremos, é do Povo de Deus; portanto, com uma boa consciência
podemos fazer uso de qualquer autor humano. – Richard Sibbes (1577-1635)

Tanto pelo Sibbes como pelo André, a existência de Deus já está sendo pressuposta, vai ser impossível criar uma prova contra ela se o resto do argumento for interpretado e contextualizado baseado nessa premissa. A mesma coisa vale para os argumentos que o Darius mencionou: dizem que o Big Bang prova que Deus criou o mundo, mas partem do pressuposto que Deus existe e explicam apenas como o Big Bang se encaixa com esse pressuposto, isto é, não o contradiz.

O problema é que a comunidade científica secular (ou seja, os cientistas que não são cristãos) também tem os seus pressupostos, e para a grande maioria, o pressuposto principal é que só podemos conhecer aquilo que podemos observar fisicamente, ou deduzir de outros fatos físicos. A coisa fica um pouco mais nebulosa ao entrarmos nas teorias sobre coisas que não podem ser observadas agora, mas que são criadas a partir dos fatos que podemos observar. No entanto, o pressuposto é o mesmo.

É o caso do Big Bang. Não creio que se provarmos a existência do Big Bang (fisicamente, pois matematicamente já há uma “prova”), possamos provar a existência de Deus. O máximo que poderemos provar é que existia uma energia original no momento da explosão. Alguns dirão que o universo sempre existiu e que explode, expande, se contrai, e explode de novo. É uma teoria interessante mas sem possibilidade de verificação, pois não podemos observar vários universos expandindo e contraindo em seqüencia, só temos unzinho pra observar. Outros (mais fiéis aos seus pressupostos) dirão apenas que antes do momento da explosão, não podemos saber o que aconteceu. É por isso que existem vários cientistas que se autodenominam agnósticos (dizem que não é possível saber se Deus existe) ao invés de ateus.

Três Métodos Lógicos

Sem querer complicar demais, mas reconhecendo que o assunto é um pouco complicado (não durma ainda!), existem três maneiras que usamos para aplicar o raciocínio aos fatos que encontramos no mundo:

  • Dedução – O método mais conhecido. “Uma coisa leva à outra.” Um exemplo da dedução:
    1. Se a casa é vermelha, é onde mora o lobo mau. (Premissa)
    2. A casa é vermelha. (Premissa)
    3. Portanto, é onde mora o lobo mau. (Conclusão)

    Podemos ver que no caso da dedução, a conclusão já está incluída nas premissas. Se aceitarmos as premissas, somos levados a acreditar na conclusão.

  • Indução – A partir de múltiplas observações do relacionamento de causa e efeito, concluimos que se o efeito acontece, a causa provavelmente é a mesma. Por exemplo (plagiando descaradamente a Wikipédia):
    1. Este cubo de gelo é frio (Ou, todos os cubos de gelo que já toquei eram frios). (Premissa)
    2. Todos os cubos de gelo são frios. (Conclusão)
  • Abdução – Não tem nada a ver com alienígenas ou discos voadores. Ocorre quando oferecemos uma explicação para um efeito, sem podermos observar o relacionamento de causa e efeito entre as duas coisas. Neste caso estamos usando o efeito para nos levar à causa, que é o contrário do que fazemos com a dedução e com a indução. É normalmente o menos confiável dos três tipos de raciocínio, pois podem existir diversas causas que poderiam produzir aquele efeito. Mas permite que criemos teorias para explicar a possível causa do efeito sob discussão. Apesar de ter existido em certas formas desde o tempo de Aristóteles (que viveu em meados de 350 A.C.), tem estado em voga nos últimos séculos por causa da sua aplicação ao método científico.

O Método Científico

O método científico é uma mescla destas três metodologias, aplicadas de diversas formas, dependendo da situação. A linha de teoria para lei no meio científico caminha da abdução à dedução. Como exemplo, um cientista morador do deserto, que nunca viu chuva, viaja para uma terra fértil, e chegando lá, pergunta: “Será que a causa desta grama molhada é água caindo do céu?” (Abdução). Depois de morar lá um tempo, e de passar por várias chuvas, ele observa que quando chove, a grama fica molhada, e percebe que a sua teoria está correta. Conclui: “Toda vez que chove, a grama fica molhada.” (Indução). Após conversar com outros cientistas e discutir a questão, eles concordam que o efeito chuva > grama molhada ocorreu com tanta freqüencia que podem começar a considerá-lo uma lei da natureza. É a partir deste momento que começam a pensar da seguinte forma (Dedução):

  1. Se chover, a grama ficará molhada. (Premissa-Lei)
  2. Está chovendo. (Premissa)
  3. A grama ficará molhada. (Conclusão).

Na maior parte das vezes, os cientistas usam o que eles já descobriram sobre o mundo para limitar o tipo de abdução que fazem e as teorias que criam. Por um lado, isto permite avanços incríveis se a base sobre a qual estão construíndo é verdadeira. Por outro, fica difícil “pensar fora da caixa” com estas limitações, e há grande relutância em rever aquelas teorias que já são consideradas leis, ou de admitir que elas possam estar erradas. O filósofo e cientista Thomas Kuhn escreveu sobre algumas destas tendências no seu livro A Estrutura das Revoluções Científicas (o link é para um resumo feito por um professor da Unicamp), mas uma discussão a fundo deste tema foge aos nossos propósitos (e o post já está longo…).

Fechando os Olhos

Há tambem uma grande relutância na comunidade científica de reconhecer que nem sempre todos os seus pressupostos estão “na mesa”, para todos ver. Querem pensar (e querem que os outros pensem) que estão praticando uma “ciência pura”, sem deixarem que a sua pesquisa seja afetada por fatores psicológicos, sociais, culturais, religiosos, etc. Mas fecham os olhos ao fato de que os pressupostos que alguém tem sobre estas coisas vão afetar vários fatores essenciais à pesquisa:

  • A direção que a pesquisa vai tomar. Quais são as perguntas que queremos responder?
  • O esforço que vamos gastar na pesquisa. O fenômeno que estamos pesquisando é importante ou não?
  • As teorias que vamos propor quanto à causa do fenômeno. São teorias que se encaixam com a nossa cosmovisão?
  • Os resultados que estamos preparados a aceitar. Vão causar problemas com as coisas que já cremos?

Esta tendência não é novidade, e não surgiu com a era da ciência ou com o método científico. É uma tendência puramente humana, à qual já eramos alertados desde os tempos de Cristo:

Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, contudo não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes nas suas especulações se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se estultos, e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível.. – O Apóstolo Paulo (Romanos 1:20-23)

O problema fundamental é que a ciência, por causa dos seus pressupostos, só admite descobertas que sejam baseadas em fatos físicos, deixando de lado grande parte do resto da experiência do que significa ser humano. Adquirimos conhecimento não só a partir de fatos e premissas mas através de relacionamentos e sentimentos. Só porque não podemos quantificar ou fisicalizar (olha o neologismo) estas coisas, não significa que elas deixem de ser verdade ou que não sejam essenciais na formação da nossa cosmovisão.

E é por isso que Deus terá sempre o status de teoria descartada diante da comunidade científica secular. O máximo que ela pode fazer é chegar ao ponto de admitir que existem certas coisas sobre a natureza que ainda não podemos explicar (e porão ênfase no ainda). Não são apenas fatos, experiências em laboratório, ou teorias que irão levar o cientista a crer em Deus. Por mais convincentes que elas sejam, sempre haverá a possibilidade, dentro da cosmovisão científica secular, de poder explicar estas coisas com outra alternativa.

Diz o néscio no seu coração: Não há Deus. Os homens têm-se corrompido, fazem-se abomináveis em suas obras; não há quem faça o bem. O Senhor olhou do céu para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento, que buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não há sequer um. – O Rei Davi (Salmo 14:1)

Abrindo os Olhos

Ainda bem que Deus não deixou o homem nesta situação, mas estabeleceu, e continua a estabelecer, relacionamentos com os homens e mulheres que criou, revelando-se a eles ao longo da história e através da Sua Palavra. Não só revelou os seus atributos na criação, mas o fez de várias outras formas, culminando na vinda de Jesus Cristo:

Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por quem fez também o mundo. – O Autor de Hebreus (Hebreus 1:1-2)

Para que o ser humano possa obter o conhecimento de que Deus existe e de quem Ele é, é Deus quem toma a iniciativa:

Mas Deus, sendo rico em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele, e com ele nos fez sentar nas regiões celestes em Cristo Jesus, para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza da sua graça, pela sua bondade para conosco em Cristo Jesus.

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas. – O Apóstolo Paulo (Efésios 2:4-10)

É Deus quem nos dá nos pressupostos corretos para o nosso raciocínio. A comunidade científica secular tem fé também, porém depositam a sua em pressupostos que não conseguem nem explicar a experiência do ser humano em sua totalidade, quanto menos responder à questão das origens, que não pertence aos fenômenos repetíveis, aferíveis, e reproduzíveis.

Pela fé entendemos que foi o universo formado, pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem – O Autor de Hebreus (Hebreus 11.3)

A “ciência pura” nunca poderá provar a existência de Deus, se seguir os pressupostos que a governam. Mas para aqueles que já foram alcançados por Ele, é uma excelente ferramenta para aprender mais sobre os seus atributos (refletidos na criação), e serve como uma constante confirmação de Sua existência e da sua personalidade, que injetou ordem e estrutura até nos mínimos detalhes, sem por um instante deixar de lado a beleza divina.

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