Proclamando a nossa (in)dependência

Arquivado sob (Mastigando) por David em 07-09-2009

Independencia ou Morte - Pedro Americo

A pintura é de Pedro Américo, feita em 1888 e orgulhosamente entitulada Independência ou Morte! É uma majestosa lembrança daquele dia onde as tensões decorrentes da tirania continental chegaram ao seu ápice, culminando no brado que deu nome à figura e rompendo até laços familiares.

Já passei tantos dias 7 de setembro longe do Brasil que não me acostumei a celebrá-los. Sempre recebia e-mails com alguma referência ao feriado, mas nunca gastei muito tempo pensando sobre o dia, a celebração do mesmo, ou sobre as idéias que giram em torno do próprio princípio da liberdade que foi proclamada. Pois bem, neste ano, de volta à minha terra, circundado por outras pessoas interessadas em celebrar esta data, pude pensar um pouco sobre o legado que Dom Pedro I nos deixou e as implicações da nossa idéia de independência.

Da independência nacional para o nacionalismo independente

Após assistir o discurso do Presidente ontem à noite, olhei um pouco o site oficial do planalto para as celebrações de hoje. Certas coisas me ocorreram:

  • Não há, no site mencionado acima, nenhum resumo da história da independência do Brasil. Há informações sobre a história da bandeira, do hino, etc. Mas quem não conhece a história da independência em si, se depender do site, vai ficar ignorante mesmo.
  • Na programação oficial para as celebrações haviam enxertado celebrações quanto ao “Ano da França no Brasil”. Quem conhece história sabe que apenas alguns anos antes de declararmos independência, a nossa pátria mãe (Portugal) estava sendo atropelada pelo exército Napoleônico. É irônico (no sentido Alanis) ou não é?
  • O Presidente Lula falou bastante sobre a riqueza brasileira, não só no pré-sal, mas elogiando a qualidade de serviço e know-how da própria Petrobrás. Se empolgou com a economia e a diminuição do desemprego, mencionou as taxas de juros baixas, e discorreu sobre as melhorias sociais dos últimos anos.
  • É só no finalzinho do seu pronunciamento que o Presidente fala sobre a independência e sobre o 7 de setembro, dizendo:

Queridas brasileiras e queridos brasileiros, é tempo de ampliarmos ainda mais a nossa esperança no Brasil. A independência não é um quadro na parede nem um grito congelado na história. A independência é uma construção do dia-a-dia. A reinvenção permanente de uma nação. A caminhada segura e soberana para o futuro. Viva o 7 de setembro!

A impressão que ficou, pelo menos para mim, é que a celebração de hoje tem mais a ver com a nação que somos agora do que com o que éramos na época da independência. Na verdade isto faz muito sentido, já que o nosso relacionamento com Portugal é completamente diferente hoje do que era em 1822. Mesmo assim, a mudança de foco é aparente. O estranho é que o Presidente nos chama para tirarmos a independência empoeirada da prateleira e a continuar sendo independentes, reinventando-nos a cada dia, caminhando segura e soberanamente para o futuro. A idéia de independência, ao servir este propósito, vira uma noção geral de falta de controles, falta de compulsões internas ou externas que ajam sobre o nosso país.

Mas é isso mesmo o que queremos? Queremos estar independentes de tudo? Pois, se somos conclamados a ser independentes, mas não fica claro do que precisamos deixar de ser dependentes, essa linha acaba na anarquia total.

Liberdade e soberania/autonomia não são equivalentes

Tive o grande prazer de participar, na semana passada, do módulo A Sina da Liberdade na Filosofia Moderna do CPAJ, lecionado pelo Dr. Davi Charles Gomes. No decorrer das aulas examinamos como a idéia da liberdade foi se transformando ao longo dos anos à medida que passou por diversas cabeças. A nossa idéia de independência e a sua ligação com a soberania está relacionada à idéia iluminista (racionalista) da liberdade, que associa liberdade com autonomia, ou seja, a capacidade de ser uma lei para si mesmo (auto=si, nomos=lei), de decidir o que é certo ou errado sozinho. A falta de fatores externos limitantes, ou seja, a independência de qualquer outra pessoa ou sistema na hora de tomar decisões, é que é vista como a verdadeira liberdade. Recomendo a matéria a todos que tiverem interesse no bloco ideológico fundamental sob o qual foi construída toda a nossa política e sociedade ocidental.

A Bíblia nos dá uma definição de liberdade completamente contrária à que está acima:

17Mas graças a Deus que, embora tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; 18e libertos do pecado, fostes feitos servos da justiça. 19Falo como homem, por causa da fraqueza da vossa carne. Pois assim como apresentastes os vossos membros como servos da impureza e da iniqüidade para iniqüidade, assim apresentai agora os vossos membros como servos da justiça para santificação. – Romanos 6.17-19 (ênfase minha)

Ao invés de sermos soberanos ou autônomos, Paulo diz que logo que somos libertos do pecado somos feitos servos da justiça. A idéia de liberdade e independência de Paulo não é uma coisa nebulosa ou sem direção, é claramente liberdade de alguma coisa e para outra coisa. Vemos isso nos versos que seguem:

20Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis livres em relação à justiça. 21E que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? pois o fim delas é a morte. 22Mas agora, libertos do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna. 23Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus nosso Senhor. – Romanos 6.20-23

Normalmente não pensamos em liberdade nestes termos. Estamos acostumados a equiparar a liberdade com a autonomia, a soberania, e a auto-determinação. Compramos a idéia da nossa sociedade, onde vencer na vida e ser livre significa não ter que obedecer a ninguém, traçar os seus próprios caminhos, controlar o seu futuro. Mas olhando estes versos só por cima, já descobrimos tremendas diferenças entre este ideal e a real liberdade que Deus nos dá:

  • É Deus que liberta…ninguém liberta a si mesmo. (18)
  • Somos libertos para sermos servos da justiça, (18) servos de Deus (22).
  • Como servos da justiça, os frutos da servidão ao pecado não contam mais contra nós. (22)

O Dia da Independência do Brasil já está quase acabando, mas não consigo matar as perguntas que foram criadas na minha cabeça. Para onde o Brasil estará caminhando, “soberanamente”? Talvez possamos fazer alguma diferença nisso se, ao invés de reinvidicarmos a nossa liberdade absoluta e de focalizarmos as nossas energias na nossa independência, proclamarmos ao nosso país e aos outros países do mundo a nossa dependência em Deus e a libertação que Ele nos deu. De agora em diante, para mim, o 7 de setembro será o Dia da Dependência. Minha oração é que um dia este seja o reconhecimento do nosso país, também.

5Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento. 6Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas. 7Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal. 8Isso será saúde para a tua carne; e refrigério para os teus ossos. – Provérbios 3.5-8

Mordidas:

(4) Mordidas para o primeiro post!

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