“Sua vida nunca mais será a mesma…” (Parte 2)

Arquivado sob (Mastigando) por David em 05-02-2009

Lucas SapecaHá alguns dias atrás eu escrevi um pouco sobre como a chegada do meu primogênito, o pequeno Lucas, mudou a nossa vida de formas inesperadas. Falei um pouco sobre a utilidade surpreendente da tecnologia como ferramenta que serviu para unir a nossa família, tão geograficamente dispersa, durante os trabalhos de parto e nos primeiros dias de vida do pimpolho. Também questionei o papel que permitimos que as nossas percepções tenham quando avaliamos o valor da vida de alguém, quer seja por idade, inteligência, utilidade a sociedade, ou uma porção de outros fatores.

Hoje quero compartilhar algumas das lições que tenho aprendido com o Lucas em seu primeiro mês de vida, emocionalmente e espiritualmente. Parece incrível que alguém tão pequeno e inocente possa mexer com o nosso íntimo de uma forma tão poderosa, mas a verdade é que através desta experiência de paternidade, ainda tão recente e nova, meus olhos foram abertos para certas coisas que provavelmente nunca teria a chance de compreender, se não estivesse nesta situação.

As agridoces cadeias da paternidade

No livro As Agridoces Cadeias da Graça, o Rev. Wadislau Gomes escreve sobre como os laços que nos unem, como irmãos em Cristo, são ao mesmo tempo acres e doces. Ele diz:

Paulo caracteriza as agridoces cadeias da comunhão em Cristo como aspectos fundamentais da existência humana. São acres porque nos prendem a Deus e uns aos outros em amor sacrificial, que prefere em honra o outro e que, não pensando de si mesmo além do que convém, pensa primeiro em Deus e, depois, no próximo. São acres porque nos prendem às pessoas–individual, sexual, étnica e culturalmente diferenciadas–, para promover a fusão corporativa (Fp. 2.3-4). São cadeias doces, porque nos prendem a Deus e uns aos outros em amor gratificante, de transparência, de bem, de zelo e de esperança, de paciência na tribulação, de perseverança em oração, de compartilhamento das necessidades uns dos outros, da bênção, da alegria e do choro, do mesmo sentimento, da equidade, da mutualidade, da humildade e da paz, que, no final, resulta na realização do nosso próprio significado.

O verso que o Rev. Wadislau cita é este:

…nada façais por contenda ou por vanglória, mas com humildade cada um considere os outros superiores a si mesmo; não olhe cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros. – Filipenses 2.3-4

Apesar de ter estudado o livro de Filipenses com o nosso grupo de jovens no semestre passado, e apesar de ter lido o livro do Rev. Wadislau também em 2008, de certa maneira só está começando a “cair a ficha” para mim agora. A submissão da nossa vontade ou da busca dos nossos desejos é um fator essencial no amadurecimento emocional e espiritual. A mais óbvia é a submissão a Deus quando reconhecemos a sua soberania e a nossa dependência dele, porém no decorrer de toda a vida essa idéia de submissão e de estar acorrentado aos que nos rodeiam continua a se fazer presente: na adolescência, a submissão aos pais que foram criados em outra geração, com costumes e interesses diferentes dos nossos. No casamento, a constatação de que a vida dali pra frente será um exercício de graça e mutualidade, ao invés de revindicações e egoísmo. E na paternidade, o exercício da paciência, da alegria, da sabedoria, e do amor, sacrificando tempo, sono, capacidade auditória, e muito mais em favor da nova pessoa na sua vida.

Imagine se, como Paulo nos exorta a fazer, agíssemos com esta mesma atitude a todos os que nos rodeiam? Como seria este mundo? Como se tornariam melhores os nossos lares? As nossas igrejas? As nossas vizinhanças, cidades, estados? O nosso país? Meu convívio com o pequeno Lucas já está me ensinando muito sobre estas coisas, e me dando bastante prática na arte de colocar os interesses de outra pessoa antes dos meus.

A minha falta da entendimento sobre a disciplina de Deus

Disciplina vs. CastigoNormalmente, especialmente em círculos cristãos, quando ouvimos a palavra “disciplina” pensamos em castigo. Seja o castigo que os pais dão aos filhos quando eles fazem alguma coisa errada, ou o castigo de Deus sobre aqueles que desobedecem aos seus desejos, ou o castigo que a igreja muitas vezes (mas nem sempre) aplica àqueles que abertamente se recusam a se arrepender de comportamentos que atentam contra a comunidade da qual fazem parte e ferem os princípios cristãos, nas nossas mentes estes termos estão muitas vezes entrelaçados.

Na verdade, a idéia de disciplina abrange muito mais do que o castigo, ainda que às vezes o castigo faça parte da disciplina. O termo em latim está conectado às idéias de educação, treinamento, auto-controle e determinação, conhecimento numa área de estudo, e uma maneira ordeira de viver. Também está intimamente conectado à idéia de discípulo, aquele que segue um determinado caminho de estudo ou crescimento, seja intelectual, emocional, ou espiritual.

O que me fez pensar sobre isto foi o fato de que certas vezes, o Lucas chora ainda que não tenha mais razões para chorar. Seguimos a lista de coisas que podemos fazer: fraldas trocadas, positivo; amamentação, positivo; variações de posição na tentativa de fazê-lo dormir ou ficar confortável, positivo. Quando ele chega a este ponto, ele começa a mexer os seus bracinhos para cima e para baixo, e inevitavelmente acaba acertando suas bochechinhas ou o seu nariz (PAF!). Resultado: fica ainda mais irritado com o tabefe que acabou de levar, chora ainda mais, move os braços mais rapidamente, e enfim, só piora as coisas. Nessas situações, tenho que colocá-lo no colo e segurar os seus braços, o que ele odeia. Começa a chorar mais e mais alto por alguns segundos, até ficar vermelhinho e exausto, fazendo um biquinho de choro que dá uma dó danada no coração do pai. Mas funciona. Ele se acalma, e pouco a pouco vou soltando os bracinhos dele, e na maioria das vezes ele vai dormir tranquilamente, ou volta a olhar as luzes do quarto e emitir os sonzinhos de bebê contente.

Olhando a minha vida, quantas vezes eu não estive em situações assim, onde eu queria fazer as coisas do meu modo, mas só ficava (metaforicamente) batendo na própria cara? Várias vezes Deus teve que dar um “chega”, segurar os meus braços, me mostrar o caminho que deveria tomar e atravessar aquele momento junto comigo para que eu pudesse chegar à tranquilidade e ao lugar (literal, emocional, ou espiritual) onde Ele queria que eu estivesse.

Lembro da história do profeta Jonas, que decidiu seguir a sua própria vontade apesar de ter ouvido claramente o que Deus queria para a sua vida. E Deus o disciplinou…estar no ventre do peixe não foi castigo, não! Foi disciplina. Foi remover certas opções de ação para que Jonas pudesse estar no melhor lugar onde qualquer um de nós pode se encontrar: no centro da vontade de Deus para as nossas vidas. Não pense por um segundo que Deus tenha ficado feliz em colocar Jonas naquela situação…mas Ele o disciplinou em amor, para o bem daquele filho que Ele amava, e para o bem daqueles na cidade de Ninive que se arrependeram e se voltaram para Ele.

Dá pé?

Estas são apenas algumas das lições que Deus tem me ensinado através do Lucas, com apenas um mês de vida fora do ventre. Uma coisa é certa: nossa vida mudou. Mas estou aqui para dizer a todos vocês, que apesar das fraldas sujas, noites mal dormidas, tímpanos avariados, planos cancelados ou modificados, e agendas completamente bagunçadas, vale à pena ser pai. Se você é casado/a e ainda está em dúvida se deve ter filhos, vá em frente. Posso afirmar, com 100% de certeza, que será uma benção incrível na sua vida, e que nos melhores sentidos possíveis, a sua vida nunca mais será a mesma.

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